Falta de condições de trabalho afasta médico jovem da rede pública de atendimento

Entre os fatores que dificultam a adesão dos médicos jovens ao serviço público, o principal é a falta de condições adequadas de trabalho. Ela foi apontada por 91,6% dos entrevistados em pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Também foram apontados como aspectos impeditivos a ausência de perspectiva de carreira e a baixa remuneração no âmbito do SUS (70,5%), assim como a necessidade de vários vínculos empregatícios para compor a renda (64%) e a carga horária excessiva (60,3%).

Ainda sobre esse tema, 84% dos egressos declararam que a qualidade das condições de trabalho é o principal determinante para fixação em um emprego ou município, após o fim da graduação ou da residência médica. Em seguida, foram apontados o nível de qualidade de vida (66,2%) e a remuneração (63,1%).

A intenção de continuar o processo de formação e capacitação após o recebimento do diploma de médico foi manifestada pela maior parte dos egressos. É o que pretendem 80,2% dos entrevistados que planejavam cursar residência médica. Desses, 57,8% queriam fazer pós-graduação em uma instituição de ensino diferente daquela onde estudou, e 22,4% pretendiam ficar na mesma escola.

Em relação às grandes áreas de atuação da medicina, 56,7% dos egressos afirmaram ter interesse em atuar na clínica médica, e 30,6%, na cirurgia. Apenas 5,7% manifestaram vontade de investir numa formação em medicina diagnóstica, e 3% gostariam de se preparar para atuar nas áreas de docência, pesquisa e gestão.

Entre as especialidades, a primeira opção dos entrevistados que pretendiam fazer residência médica recai sobre a pediatria. Ela foi citada como a preferida por 12,3%. Na sequência, vieram a clínica médica (11,5%), a cirurgia geral (8,8%), a ginecologia e obstetrícia (8,6%) e a anestesiologia (7,1%).

Esses percentuais também estão próximos dos dados registrados na Demografia Médica no Brasil 2015, pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) com o apoio do CFM e do Cremesp, que aponta a clínica médica como a especialidade com o maior número de especialistas (35.060), seguida de perto pela pediatria (34.637), cirurgia geral (29.200), ginecologia e obstetrícia (28.280) e anestesiologia (20.898).

Essas cinco especialidades somam 45% do total de especialistas brasileiros e são a preferência de 48,3% dos recém-formados. A especialidade medicina de família e comunidade, cujas vagas foram ampliadas recentemente e passou a ser pré-requisito para várias outras especialidades, conta com a preferência de apenas 1,5% dos recém-formados.

Finalmente, o estudo revela a preferência dos médicos jovens de desenvolver sua carreira nos municípios onde nasceram. Essa é a posição declarada por 45,6% dos entrevistados, que declararam intenção ou desejo de exercer a medicina em seu município natal. Por sua vez, 18,5% consideram mais atraente a cidade onde concluíram a graduação; 13,5% preferem o local de residência médica; e 22,4% procurariam outra localidade, completamente diferente das opções anteriores.

A pesquisa do CFM contou com o apoio da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e buscou avaliar diferentes percepções dos egressos sob aspectos da vida profissional e sua relação com à medicina.